A importância de políticas públicas específicas para a população negra, o enfrentamento ao racismo estrutural e a urgência da reparação histórica foram o eixo central da roda de conversa realizada nesta segunda-feira (17), em São José. O encontro reuniu lideranças do movimento negro, representantes do poder público, militantes e a comunidade em geral, em um espaço de escuta, debate e construção coletiva.
Logo no início, o evento contou com a participação do ex-vereador de São José e ator Adfriano de Brito, que falou sobre os desafios de ser artista negro no Brasil, como o preconceito racial, a falta de oportunidades e a necessidade de preparo constante para ocupar espaços de destaque.“Pra ser artista negro em São José você tem que ser resistência, requer paciência, muito estudo, às vezes mais que uma pessoa branca. A gente tem que estar muito preparado porque as oportunidades não vêm e, quando chegam, a gente não tem chance de errar”, diz Brito.
Líder comunitário e ex-vereador de Florianópolis, Juninho Mamão destacou que falar de políticas públicas para a população negra é falar de sobrevivência e de futuro.“Quem nasce negro nasce enfrentando problemas sociais. Somos maioria no Brasil. O racismo estrutural segue tirando vidas. Precisamos discutir como garantir social e juridicamente a vida do povo negro, valorizando nossa história e lutando por reparação. Temos que lutar pelos nossos direitos o ano inteiro, não só em novembro”.
A advogada Mayara de Andrade Bezerra, especialista em Direito Antidiscriminatório, reforçou o papel do sistema de justiça na proteção da população negra.“As leis existem, mas precisam ser efetivadas. Quando falamos de direito antidiscriminatório, falamos de responsabilizar quem pratica racismo, mas também de cobrar do poder público políticas concretas em educação, saúde, trabalho e moradia digna para a população negra. A luta é jurídica, mas é também social e política”.
Ferramentas de resistências
Idealizador do movimento que deu origem à Escola Olodum Sul, o ativista Marcos Canetta ressaltou a potência dos espaços formativos e culturais como ferramenta de resistência.“A Escola Olodum Sul é o nosso quilombo aqui em Santa Catarina. É um lugar de pertencimento, de formação política, cultural e histórica. Quando a gente ocupa a cidade com nosso tambor, nossa arte e nossa voz, a gente está dizendo que o povo negro tem história, tem memória e tem direito de sonhar com um futuro mais justo”.
O diretor de Cultura de São José, Cleyton Medeiros, que também participou do encontro, destacou a importância do Novembro Todo Dia como política contínua de promoção da equidade racial no município.“O Novembro Todo Dia não é só uma programação de eventos, é um compromisso permanente com a valorização da cultura negra, com o enfrentamento ao racismo e com a construção de políticas públicas que façam diferença real na vida das pessoas. A Cultura tem um papel fundamental nesse processo de transformação”.
A roda de conversa também destacou a trajetória do ex-vereador Márcio de Souza, nascido em Florianópolis em 1959, referência nas lutas por políticas sociais e ações afirmativas. Em sua fala, ele enfatizou a importância da presença de pessoas negras em todos os espaços de poder.“A presença de pessoas negras nas assembleias legislativas, nas câmaras de vereadores, no Senado e em todas as esferas do poder é fundamental para a consolidação da democracia, a promoção da justiça social e a eficácia das políticas públicas no Brasil. Quando legisladores e gestores negros ocupam esses espaços, eles trazem para o centro das decisões as perspectivas e necessidades específicas de uma população que historicamente enfrenta desigualdades estruturais”.
Ao longo do encontro, os convidados contaram suas experiências de vida e, principalmente, no mercado de trabalho. Em todas as vivências, algo em comum: a falta de representatividade de pessoas negras ocupando profissões de destaque foi um obstáculo na trajetória de todos.
Ao final, a roda de conversa reforçou uma mensagem central: o combate ao racismo e a construção de políticas públicas para a população negra não podem se limitar ao mês de novembro. Precisam estar presentes o ano inteiro, nas decisões políticas, nas instituições e no cotidiano da sociedade. Também foi reforçada a necessidade dos grupos trabalharem de forma.
O Secretário de Cultura e Turismo, Toninho da Silveira fala que apesar da existência de diversas correntes ideológicas e metodológicas dentro do movimento negro brasileiro, a busca por ações conjuntas é uma constante, motivada pelo entendimento de que a união é fundamental para o fortalecimento da luta antirracista e para a efetivação de políticas públicas. “Em São José, a articulação entre poder público, movimentos sociais, artistas, educadores e a comunidade negra é essencial para transformar o debate em ações concretas, garantindo direitos, ampliando oportunidades e construindo uma cidade mais justa e igualitária para todas e todos”, finaliza.






Fonte Original | Cultura e Turismo Notícias – Prefeitura Municipal De São José



